quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Thomas Struth @ Serralves até 28 de Fevereiro

Thomas Struth - Times Square, New York, 2000

O Museu de Arte Contemporânea de Serralves apresenta até Fevereiro de 2012 a exposição Thomas Struth: Fotografias 1978 – 2010, que reúne mais de uma centena de obras e passa em revista a obra de Thomas Struth (Dusseldorf, Alemanha, 1954) ao longo de três décadas. A exposição inclui grupos alargados de cada uma das séries que constituem o corpo da obra do artista: fotografias a preto e branco de cidades europeias, asiáticas e americanas, retratos de família e impressões a cor em grande escala realizadas em selvas e florestas densas, no interior de alguns dos maiores museus do mundo e em locais de culto como templos e catedrais. Culmina com um importante conjunto de novos trabalhos.

Na obra de Thomas Struth a fotografia assume a condição de um impressionante ensaio visual sobre o mundo em que vivemos, os seus tempos e os seus lugares. Struth desenvolveu uma abordagem característica dos temas e um repertório intrigante, ao mesmo tempo que permanecia atento às possibilidades específicas da fotografia. Trabalhando numa época caracterizada por uma sobrecarga de imagens extremamente trabalhadas e mediadas, Struth dotou os seus trabalhos de uma intensidade e uma integridade renovadas.

Esta exposição traz pela primeira vez a Portugal uma das maiores apresentações antológicas do trabalho do artista, e revela a complexidade com que Thomas Struth vê e representa o mundo. É uma co-produção com os museus Kunsthaus, de Zurique, Kunstsammlung Nordrhein-Westfalen, de Dusseldorf e Whitechapel Gallery, de Londres, onde a exposição foi já apresentada.
Sobre esta exposição, o director do Museu de Serralves, João Fernandes, escreve: “Muitas vezes, perante uma fotografia de Thomas Struth, somos surpreendidos por uma imagem do tempo em que vivemos que ilumina a nossa percepção deste tempo de modo a detectarmos nele as convenções que o emolduram e determinam. Numa fotografia de Struth, dar a ver é sempre um desafio à reflexão sobre o que se vê. A intensidade hipnótica de cada imagem encontra-se precisamente em tudo quanto ela possa convocar no pensamento da sua audiência. Percebemos, perante cada trabalho do artista, que nos encontramos não só perante um documento do mundo mas também perante um ponto de vista sobre esse mesmo mundo, atravessando a realidade com esse fulgor com que a obra de arte constrói a memória que nos desafia à viagem pelo presente da História. (…) Do mesmo modo que Walter Benjamin encontrava em Baudelaire a manifestação de um poeta na época do capitalismo avançado, poderemos confrontar-nos na fotografia de Thomas Struth com a manifestação de um artista na época do capitalismo globalizado. Das novas fábricas do saber e da técnica às novas cidades de um mundo global, dos novos locais da mobilidade humana aos museus e à cultura como espectáculo ritualizado do turismo de massas, Thomas Struth traz para a fotografia contemporânea, sem artifícios que lhe falsifiquem a condição documental, um conjunto impressionante de quadros de uma época, que a ilustram do mesmo modo que o romance do século XIX ilustrava a sociedade capitalista através dos quadros da vida das suas personagens nas suas novas metrópoles. (…) É uma honra para o Museu de Arte Contemporânea de Serralves acolher nas suas salas uma das grande obras da arte do nosso tempo e trazer pela primeira vez a Portugal uma das maiores apresentações antológicas do trabalho de Thomas Struth.”

(Texto Original do Gabinete de Imprensa de Serralves)

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Jeff Wall – The Crocked Path @ Santiago de Compostela ‐ Centro de Arte Contemporânea (CGAC)

Jeff Wall, The Thinker, 1986

Jeff Wall, Milk, 1984

Jeff Wall, Insomnia, 1994

Jeff Wall – The Crocked Path Santiago de Compostela ‐ Centro de Arte Contemporânea (CGAC)

Existem fotógrafos e, existem artistas plásticos que criam obras de arte utilizando o media da fotografia. São conceitos muito diferentes sendo facilmente adquiridos quando visionamos uma exposição de arte contemporânea, neste caso o “The Crooked Path” (ou caminho sinuoso) do artista Jeff Wall.
A exposição expõe pela primeira vez na península ibérica, um conjunto significativo de trabalhos do artista marcando de forma decisiva o discurso visual, consolidado e sólido que o artista vem demonstrando e que poderá suscitar nos visitantes novas formas de interpretação dos seus trabalhos.
Para além das obras do próprio Jeff Wall a exposição está também composta por uma ampla selecção de obras de autores que serviram de influência à realização das criações. Jeff Wall quis criar uma analogia material com o seu método de trabalho, onde as referencias ao universo da modernidade ou ao processo aberto que servem de pontos âncora para uma perspectiva de imagem como dispositivo não só visual mas também intelectual.
Jeff Wall é um fotógrafo radicado em Vancouver, no Canadá, cidade também escolhida por muitas das produtoras cinematográficas para rodar os seus filmes. Porém a cidade de Vancouver de Jeff Wall é uma cidade diferente daquela percepcionada pela maioria dos seus visitantes. Tendo nascido e vivido desde sempre em Vancouver é de escolha natural que a vida da cidade seja a matéria‐prima das suas criações. Contudo as fotografias de Jeff Wall não se tratam de instantâneos do dia‐a‐dia dessa cidade, para Jeff Wall as fotografias são um trabalho sobre a memória e a reinterpretação da realidade, um registo miticuloso e pensado ao pequeno detalhe que compõe cada uma das obras apresentadas. No seu trabalho Wall apresenta os furos e inevitabilidades entre a realidade e a ficção num jogo quase de uma composição cénica, fruto de uma fusão entre o teatro e o cinema, desta feita pensado no quadro único considerado pelo conceito de Wall da “arte de não fotografar”. Para Wall mais importante do que procurar pelas fotografias do dia‐a‐dia, é procurar as imagens que se escondem na cidade, em vez de as captar a nu numa câmara fotográfica, Wall guarda essas imagens na sua memória e só posteriormente constrói uma ficção a partir dessa memória, alternando sempre as contribuições da ficção e da realidade em cada fotografia.
Jeff Wall foi um dos primeiros artistas conceptuais a pensar o significado da fotografia dentro de um contexto “pós‐modernista”. Trabalhou muito sobre o cliché fotográfico sobre o clique mágico que cristalizava um momento único. Como alguns fotógrafos dessa geração recorreram a vários meios para falsificar a autenticidade desse momento único. No caso de Wall recorre a uma encenação que encontra um momento único que é repetido vezes sem conta tal como no cinema até acertar com o projecto proposto.
Por todas essas razões as fotografias sejam de pequenas acções que acontecem na rua, pequenos acidentes momentâneos, tudo é encenado tal como acontece no cinema. O próprio processo de colocar as fotografias em caixas de luz tendem a criar o efeito de imagem cinematográfica. Apenas condensada num acto único como um frame. De resto Jeff Wall, é conhecido pelas suas referências às artes plásticas como o caso de “Destroyed Room” ou “Picture of Women” que são inspiradas em artistas como Michael Duchamp, Bruce Norman, Chris Burde ou ainda ao cineasta Rainer Wener Fasbinder. Existem na grande maioria das criações referência a a cenas complexas como acontecia muitas vezes na pintura barroca onde várias personagens cumprem diferentes acções numa única paisagem. Ainda a destacar para as salas: “A Arvore Genealógica: Sobre a tradição fotográfica” onde podemos visionar um conjunto de artistas considerado por Jeff Wall como dos artistas mais influentes da fotografia do século vinte. Assim estão expostos nomes como a americana Diane Arbus, o francês Eugene Atget, o alemão August Sander ou ainda o americano Robert Frank artista que publicou em finais dos anos cinquenta o livro “os Americanos” que Jeff Wall utilizava para fazer desenhos tendo por base as imagens do livro. E ainda a sala dos “Contemporâneos” onde podemos visionar obras de amigos de Jeff Wall. Em diferentes formatos é certo e diferentes tipos de suportes encontramos artistas como Helen Levitt, Christopher Williams, Patrick Faigenbaum. Não fica completo o circuito de referências sem mencionar o Thomas Struth e Thomas Ruff e ainda uma visão muito semelhante aos trabalhos de Jeff Wall de Stephen Shore, fotógrafo americano que ficou famoso por suas imagens de objectos, cenas quotidianas, e pelo pioneirismo no uso de cor na fotografia artística.
Jeff Wall é sem dúvida um dos fotógrafos mais influentes da actualidade. Apesar de amplamente divulgadas as suas fotografias, é no suporte de caixas de luz de grande dimensão que as fotografias ganham com uma visão. Nunca exposto em Portugal surge agora a oportunidade de ver uma pequena retrospectiva em Santiago de Compostela no CGAC até dia 26 de Fevereiro.

Balancete do Minho.2011